Tempo de leitura: 2 minutos e 59 segundos
Temas principais: o impacto de um Ășnico texto, começando a escrever, e as trĂȘs perspectivas que guiam nossa escrita.
â” Veleiro
ReflexÔes e dicas pråticas
Semana passada eu estava tendo um dia difĂcil.
Liguei para uma amiga. VocĂȘ tem sabonete de coco, ela me perguntou. Respondi que nĂŁo. Pois entĂŁo vai a uma farmĂĄcia comprar. O coco ajuda na limpeza espiritual, disse ela. Talvez nem tenha sido bem isso o que ela falou, mas minha memĂłria registou assim.
Não acredito em sabonetes milagrosos, mas acredito muito nessa amiga. Então segui a orientação dela. Me arrumei, saà de casa, caminhei até uma farmåcia, achei um sabonete de coco, voltei para casa, tirei a roupa, tomei banho.
Para minha surpresa, me senti melhor. NĂŁo sĂł depois do banho, mas antes. Conhecendo essa amiga, sei que ela tinha plena consciĂȘncia de que a jornada para completar aquela tarefa era mais importante do que usar o sabonete de coco. Em dias difĂceis, quando a incerteza paralisa, faz uma diferença enorme ter alguĂ©m em quem confiamos sugerindo novas formas de lidar com nossas dificuldades.
Te conto isso porque jĂĄ me questionei vĂĄrias vezes ao longo dos anos sobre o verdadeiro impacto que um texto pode ter.
As pessoas dedicam sua atenção ao que a gente escreve por alguns minutos e, no segundo seguinte, seguem com suas vidas. Leem nossos textos e respondem a um email. Leem nossos textos e dĂŁo uma mordida no sanduĂche. Leem nossos textos e cortam as unhas do pĂ©. E o mundo segue como sempre seguiu.
Escrevi esse parågrafo anos atrås, mas jå não acredito mais nessas palavras. Hoje, tenho convicção de que um texto pode ser uma amiga que recomenda tomar banho com sabonete de coco.
đ§ BĂșssola
Respostas para perguntas enviadas por leitores
âDiego, por que começar textos Ă© tĂŁo difĂcil?â
Vou deixar que a
responda para vocĂȘ:âVocĂȘ começa a colocar as palavras no papel, o texto começa a ganhar corpo e vem uma sensação de... luto? ImpaciĂȘncia, pressa? Na melhor das hipĂłteses, vĂȘm junto com algum prazer, mas Ă s vezes nĂŁo, Ă s vezes vem puro pesar, ansiedade, raiva atĂ©.
O luto tambĂ©m aparece como a sensação de que o texto diante de vocĂȘ parece pouco em relação ao texto que existia em suas expectativas; mesmo que vocĂȘ sinta orgulho, vocĂȘ tambĂ©m se decepciona. A pressa tambĂ©m aparece como a sensação de que vocĂȘ vai desperdiçar tempo; pra que começar a escrever se vocĂȘ nĂŁo sabe se vai ter tempo/energia para terminar?â
Recomendo a leitura do texto completo da Sheyla.
đ Ondas
InspiraçÔes e referĂȘncias
Encontrei esta pĂ©rola no perfil da Dr. Elizabeth Fedrick (tradução minha do inglĂȘs):
âCurar [sofrimento] Ă© tĂŁo difĂcil porque Ă© uma batalha constante entre sua criança interior, que estĂĄ assustada e sĂł quer segurança... seu adolescente interior, que estĂĄ com raiva e sĂł quer justiça... e seu eu [adulto] atual, que estĂĄ cansado e sĂł quer paz.â
JĂĄ me percebi escrevendo com cada uma dessas trĂȘs perspectivas.
Como criança insegura em busca de validação.
Como adolescente injustiçado em busca de compaixão.
Como adulto em paz em busca de expressĂŁo.
O ideal é sempre escrever como adulto? Não. O ideal é abrir espaço no seu fluxo de criação para extrair o melhor de cada perspectiva:
Deixar seu lado criança brincar e experimentar.
Permitir ao seu lado adolescente se conectar com emoçÔes intensas.
Convidar seu lado adulto para criar uma narrativa coerente.
Que lado seu costuma aparecer com mais frequĂȘncia quando vocĂȘ escreve?
Até a próxima.
Abs, Diego
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